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terça-feira, 10 de abril de 2007

Correspondência a Três


Textos de Rainer Maria Rilke, Boris Pasternak e Marina Tsvetaeva
Produção: Centro Cultural de Belém em colaboração com o Teatro Nacional São João

Ficha técnica:
Interpretação:
Rainer Maria Rilke - Cláudio da silva
Boris Pasternak - Amândio Pinheiro
Marina Tsvetaieva – Inês de Medeiros
Encenação e dramaturgia- Inês de Medeiros
Traduções - Armando Silva Carvalho e Vasco Pimentel
Cenografia e figurinos – Rita Lopes Alves
Desenho de luz – Daniel Worm

CCB, 12 a 15 de Abril de 2007
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Entre Moscovo, França e Suíça forma-se um triângulo poético-amoroso entre três dos maiores poetas do século XX: Pasternak, Rilke e Tsvetaieva.

Já documentada em livro com o mesmo título, Correspondência a Três sobe agora ao palco, numa encenação da actriz Inês de Medeiros. Resultado de uma breve mas intensa correspondência entre Rainer Maria Rilke, poeta checo de expressão alemã a viver na Suíça, Boris Pasternak, poeta russo então revolucionário a viver em Moscovo, e Marina Tsvetaieva, poetisa russa a viver em França – pessoas que mal se conhecem e nunca se vão encontrar –, nasce um dos mais estranhos triângulos poético-amorosos, pleno de arrebatamentos e lirismo.

Verão de 1926. Durante meia dúzia de meses três dos maiores poetas do século XX vão trocar uma correspondência apaixonada. Boris Pasternak, em Moscovo, tentando afirmar-se como poeta numa Rússia pós-Revolução; Marina Tsvetaieva, exilada em França, esperançada em melhores dias; e Rainer Maria Rilke, doente na Suíça, à beira da morte.
Se a admiração e o respeito que os une como poetas são autênticos, a relação amorosa que entre eles se estabelece é profundamente marcada pela distância e a ausência de contacto.
Apesar da expectativa de um dia se encontrarem estar sempre presente nas suas cartas, esta confrontação é sempre adiada, como se ela viesse impor uma realidade que nenhum deseja.

Um amor epistolar é um amor sem gestos e sem silêncios. Os silêncios são imediatamente preenchidos por novas palavras que os moldam, criam, e inventam. Palavras de poetas que exigem do outro o seu próprio ideal amoroso, que abraçam todos os paradoxos e contradições inerentes ao próprio acto de amar.
O projecto de levar à cena estes textos nasce da vontade de dar um corpo (esses corpos que nunca se cruzaram) a três vozes, três miragens dominadas por um desejo de amar capaz de anular as distâncias, a ausência e a solidão, mas também exigente, impulsivo e egoísta.
Um amor que nasce da Poesia, que vive da sua capacidade de evocação mas que esbarra com os dolorosos limites da idealização. Quem se ama, o poeta ou o homem? Quem ama? Quem é amado?

“O amor odeia o poeta. O amor não quer ser magnificado, toma-se por um absoluto, o único. E não confia em nós. Sabe, no mais profundo de si próprio, que não é magnífico (daí a sua tirania!), sabe que toda a magnificência é — alma, e onde a alma começa, o corpo acaba. Puro ciúme, Rainer, o mais puro. Como o da alma perante o corpo.”

Inês de Medeiros

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