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terça-feira, 31 de julho de 2007

Péricles de William Shakespeare, Antonio Latella

Partir, ir para longe daquilo que deveremos ser, incapazes de sermos guias de nós próprios, incapazes de sermos guias de uma família, de um povo, um exemplo para uma ideia a seguir; fugir para se encontrar e voltar, com o tempo que desenhou sobre o nosso corpo o mapa do nosso vaguear, do nosso ser enquanto pesquisadores nómadas.
Péricles persegue um exemplo, um mestre em quem inspirar-se para ser rei; no texto todo ele nunca diz ser Péricles rei de Tiro; sabe que não o pode ser; que uma vida não lhe chega para poder ser rei: isto é, aquele que, eleito pelo povo e pelos Deuses, deve poder ser um exemplo de nobreza e de ética humana.
Em cada porto um reino, em cada reino um povo, e um rei.

Apenas quando encontrará o rei bom, Péricles poderá apaixonar-se para dar vida, para gerar um ser nobre, mas os deuses ainda o castigam tirando-lhe tudo, atirando-o de novo para as ondas do destino, num mundo que não escolhe mover-se, mas que se deixa mover, pelas forças da natureza, e pelas forças divinas...
[…]
As personagens são vectores de emoções que vão desengonçar o papel para chegar a alguma coisa de fortemente íntimo e poético
Todos serão um coro da alma, um coro que “para cantar um canto que em tempos foi cantado das cinzas voltou..."

Regressar do mundo dos mortos, para contar uma história de um pai e de uma filha... o renascimento, o nascimento de uma nova possibilidade. O coro comenta, olha, explica, diverte-se, fica de fora da dor e das alegrias, para ter um olhar objectivo, mais límpido do que aquele dos deuses, mas intimo como aquele do grande Poeta, ao qual voltamos a cada vez para reiniciar a viagem...
Do coro tudo nasce e tudo regressa, como se o coro fosse a tinta, o rio que o poeta derramou sobre os lençóis brancos que envolvem as nossas íntimas e pequenas histórias humanas: lençóis, sudários, velas, berços, ondas... mas sobretudo páginas brancas...

Antonio Latella
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Centro Cultural de Belém
1 e 2 de Agosto de 2007

Com
Alexandre Aflalo, Estelle Franco, Dominique Pattuelli (Bélgica)
Jean-François Bourinet, Daniela Labbé Cabrera (França)
Valentina Gristina, Emiliano Masala, Daniele Pilli (Itália)
Paula Diogo, Luís Godinho, Martim Pedroso (Portugal)
Julián Fuentes Reta (Espanha)

Som: Franco Visioli
Desenho de luz: Giorgio Cervesi

Uma criação de:
Projecto Thierry Salmon – a nova École des Maîtres 2006/2007
Dirigido por Franco Quadri
CSS Teatro stabile di innovazione del FVG (Itália), La Comédie de Reims, Centre Dramatique National (França), Ministério da Cultura – Instituto das Artes (Portugal), Centro Dramático de Aragón – Departamento de Educación, Cultura y Deporte del Gobierno de Aragón (Espanha)
Em co-produção com o Teatro Stabile dell’Umbria (Itália)

Em colaboração com: ETI – Ente Teatrale Italiano (Itália), Arcus (Itália), Ministère de la Culture et de la Communication (França), AFDAS (França), CREPA – Centre de Recherche et d’Expérimentation en Pédagogie Artistique (CFWB/ Bélgica), Commissariat Général aux Relations Internationales (CFWB/Bélgica), Centro Cultural de Belém (Portugal), Regione Friuli Venezia Giulia (Itália) e com a Comune di Fagagna (Itália)

domingo, 29 de julho de 2007

Belle Toujours, Manoel de Oliveira

"«BELLE TOUJOURS» ocorreu-me à ideia inesperadamente, e como tinha gosto de prestar a minha homenagem a Luís Buñuel e a Jean Claude Carrière fiquei feliz por ter encontrado o modo de o fazer, talvez o melhor, e meti mãos à obra.
De que se trata? De retomar duas das estranhas personagens do filme «Belle de Jour», e fazê-las reviver, trinta e oito anos depois, na estranheza de um segredo que só ficara na posse da personagem masculina e cujo conhecimento se tornara crucial para a personagem feminina.
Assim, passado esse tempo, voltam a encontrar-se.
Mas ela tenta por todos os meios evitá-lo.
Ele, porém, persegue-a e, ainda que contrariada, consegue detê-la face à intenção de lhe revelar o segredo que só ele lhe pode desvendar.
Marcam um encontro, um jantar, onde ela espera que tudo lhe seja revelado. Dá-se o jantar onde ela, viúva, aguarda a esperada revelação: o que ele dela dissera ao marido quando este estava mudo e paralítico por causa de um tiro que um amante dela lhe dera.

A situação é tensa e ela acaba desesperada sem poder afinal saber o que em verdade se passou.
Ele fica satisfeito no seu sadismo e no seu particular modo de se vingar da altivez dessa mulher que no fundo o desejou, mas que o seu feitio altivo impediu que ele a possuísse.

Manoel de Oliveira
Porto, 8 de Julho de 2005"
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This sly, witty work by Portuguese master Manoel de Oliveira (soon to celebrate his 98th birthday) takes as its premise the idea of revisiting Luis Buñuel’s Belle du Jour, or at least two of its characters, marvelously played by Michel Piccoli and Bulle Ogier (in the role originated by Catherine Deneuve). Henri (Piccoli), long ago rejected by Séverine (Ogier), is now in possession of a secret which she is anxious to learn. The erotic cat-and-mouse game they play across Paris results in a delicious comedy of manners. There is also a wonderful, gracious freedom in the tribute that one major film director pays another: Oliveira captures the wry perversity of Buñuel’s late style, while bringing his own unpredictable, worldly spirit to the table.
New York film festival
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Unlike Bergman's Saraband, a three-decades-later follow-up to Scenes From a Marriage, de Oliveira's latest can't quite be labeled a sequel; instead, it's an intimate homage to Luis Buñuel and Jean-Claude Carrière's 1967 masterpiece, Belle de Jour. In the opening sequence of a Parisian symphony orchestra performance, we're reintroduced to the older, balder, and still lecherous Henri Husson (Michel Piccoli) as he spots the former bourgeois wife-turned-prostitute Séverine Serizy (Bulle Ogier, replacing Catherine Deneuve as "Belle") in the crowd. Eager to reconnect and find closure to 38 years' worth of secrets, lies, and related baggage, Husson attempts to track her down following the concert, then immediately loses her in the streets of a city that de Oliveira so clearly loves and chooses to preserve with a lingering economy of shots. A breezy hour-and-ten-minutes long, this beautifully affecting film is less about these beloved characters than its aging filmmaker's wistful reminiscences of cinema itself and a long lifetime's worth of material pleasures. "I'm a different woman now," says the standoffish Séverine with conscious irony, a woman played by Ogier instead of Deneuve as both an homage to Buñuel (the actress playing the female lead in the director's That Obscure Object of Desire is replaced by another halfway through) and to underscore the idea that memories and their passing can only exist in the subjective mind; we watch the film through Husson's eyes and worldly agenda. Fans of the original will hopefully smile at the visual references to that mysteriously buzzing box, the random rooster that clucks past a hotel doorway, or the painting that faintly mirrors Deneuve's iconic over-the-shoulder naked gaze, but it's within the astute pub confessions and dinnertime silences where the magic of this wholly liberated story lies.
Premiere.com

terça-feira, 24 de julho de 2007

Jazz em Agosto, Gulbenkian

Sexta, 3 Ago 2007, 21:30 - Grande Auditório Sexta, 3 Ago 2007, 21:30 - Grande Auditório
Sexta, 3 Ago 2007, 21:30 - Grande Auditório Muhal Richard Abrams - George Lewis - Roscoe Mitchell (EUA)

Muhal Richard Abrams (piano), George Lewis (trombone, laptop), Roscoe Mitchell (sax alto, soprano, percussão)

Sábado, 4 Ago 2007, 15h30 - Auditório Três Sábado, 4 Ago 2007, 15h30 - Auditório Três
Sábado, 4 Ago 2007, 15h30 - Auditório Três Conferência «Projecting Your Own Individualism»
por Muhal Richard Abrams

Sábado, 4 Ago 2007, 18:30 - Auditório Dois Sábado, 4 Ago 2007, 18:30 - Auditório Dois
Sábado, 4 Ago 2007, 18:30 - Auditório Dois Hubbub (França)

Frédéric Blondy (piano), Bertrand Denzler (sax tenor), Jean-Luc Guionnet (sax alto), Jean-Sébastien Mariage (guitarra eléctrica), Edward Perraud (bateria)

Sábado, 4 Ago 2007, 21:30 - Anfiteatro ao Ar Livre Sábado, 4 Ago 2007, 21:30 - Anfiteatro ao Ar Livre
Sábado, 4 Ago 2007, 21:30 - Anfiteatro ao Ar Livre Nik Bärtsch’s Ronin (Suiça)

Nik Bärtsch (piano), Sha (clarinetes, baixo e contrabaixo), Björn Meyer (contrabaixo), Kaspar Rast (bateria), Andi Pupato (percussão)

Domingo, 5 Ago 2007, 15:30 - Sala Polivalente Domingo, 5 Ago 2007, 15:30 - Sala Polivalente
Domingo, 5 Ago 2007, 15:30 - Sala Polivalente Carlos Zíngaro / Jorge Lima Barreto (Portugal)

Carlos Zíngaro (violino), Jorge Lima Barreto (piano)

Domingo, 5 Ago 2007, 18:30 - Auditório Dois Domingo, 5 Ago 2007, 18:30 - Auditório Dois
Domingo, 5 Ago 2007, 18:30 - Auditório Dois Low Frequency Tuba Band (Portugal, EUA, Reino Unido)

Sérgio Carolino (tuba), Oren Marshall (tuba), Marcus Rojas (tuba), Jay Rozen (tuba), Alexandre Frazão (bateria)

Domingo, 5 Ago 2007, 21:30 - Anfiteatro ao Ar Livre Domingo, 5 Ago 2007, 21:30 - Anfiteatro ao Ar Livre
Domingo, 5 Ago 2007, 21:30 - Anfiteatro ao Ar Livre Crimetime Orchestra (Noruega)

Vidar Johansen (sax tenor, barítono, clarinete baixo), Jon Klette (sax alto), Kjetil Møster (sax tenor), Øivind Brekke (trombone), Sjur Miljeteig (trompete), Mats Eilertsen (baixo eléctrico), Per Zanussi (contrabaixo), Anders Hana (guitarra eléctrica), Christian Wallumrød (piano, teclados, efeitos), Eudun Kleive (bateria), Stig Henriksen (desenho de som)

Quinta, 9 Ago 2007, 18h30 - Sala Polivalente Quinta, 9 Ago 2007, 18h30 - Sala Polivalente
Quinta, 9 Ago 2007, 18h30 - Sala Polivalente «Ornette: Made In America»
Filme documental de Shirley Clarke 1985 (80’)

Quinta, 9 Ago 2007, 21:30 - Anfiteatro ao Ar Livre Quinta, 9 Ago 2007, 21:30 - Anfiteatro ao Ar Livre
Quinta, 9 Ago 2007, 21:30 - Anfiteatro ao Ar Livre Joe Fonda’s Bottoms Out «Loaded Basses» (EUA, Alemanha)

Joe Fonda (contrabaixo), Claire Daly (sax barítono), Joe Daley (tuba), Gebhard Ullmann (clarinete baixo), Michael Rabinowitz (fagote), Gerry Hemingway (bateria)

Sexta, 10 Ago 2007, 15:30 - Sala Polivalente Sexta, 10 Ago 2007, 15:30 - Sala Polivalente
Sexta, 10 Ago 2007, 15:30 - Sala Polivalente «My Name Is Albert Ayler»
Filme documental de Kasper Collin 2005 (79’). Presença do realizador

Sexta, 10 Ago 2007, 18h30 - Auditório Três Sexta, 10 Ago 2007, 18h30 - Auditório Três
Sexta, 10 Ago 2007, 18h30 - Auditório Três Conferência por Ornette Coleman (tema TBA)

Sexta, 10 Ago 2007, 21:30 - Anfiteatro ao Ar Livre Sexta, 10 Ago 2007, 21:30 - Anfiteatro ao Ar Livre
Sexta, 10 Ago 2007, 21:30 - Anfiteatro ao Ar Livre Quartet Noir (Suiça, EUA, França)

Urs Leimgruber (sax tenor, soprano), Marilyn Crispell (piano), Joëlle Léandre (contrabaixo), Fritz Hauser (bateria)

Sábado, 11 Ago 2007, 15:30 - Sala Polivalente Sábado, 11 Ago 2007, 15:30 - Sala Polivalente
Sábado, 11 Ago 2007, 15:30 - Sala Polivalente Joëlle Léandre (França)

Sábado, 11 Ago 2007, 18:30 - Auditório Dois Sábado, 11 Ago 2007, 18:30 - Auditório Dois
Sábado, 11 Ago 2007, 18:30 - Auditório Dois Timbre (EUA, Alemanha, Áustria)

Lauren Newton (voz), Elisabeth Tuchmann (voz), Oskar Mörth (voz), Bertl Mütter (voz, trombone)

Sábado, 11 Ago 2007, 21:30 - Grande Auditório Sábado, 11 Ago 2007, 21:30 - Grande Auditório
Sábado, 11 Ago 2007, 21:30 - Grande Auditório Ornette Coleman Quintet (EUA)

Ornette Coleman, (sax alto, violino, trompete), Tony Falanga (contrabaixo),Charnett Moffett (contrabaixo), Al Macdowell (baixo eléctrico), Ornette Denardo Coleman (bateria)


domingo, 22 de julho de 2007

Homme pour Homme, Emmanuel Demarcy-Mota


Homme pour Homme
Teatro Nacional D. Maria II
24 e 25 de Julho de 2007

produção La Comédie de Reims – CDN | Théâtre de la Ville – Paris
apoio CULTURESFRANCE

Em Homme pour homme, um comissário torna-se numa máquina de guerra, um soldado bêbado é transformado em deus e um sargento sanguinário em civil desnorteado. A peça é o lugar das metamorfoses do homem, as da sua permeabilidade constante para a mudança, em primeiro lugar a de Galy Gay, figura central desta fantasia violenta.

Galy Gay era um homem pacífico até ao momento em que a acção desta história começa e a mulher o manda comprar um peixe. No caminho, encontra três soldados que precisam de um substituto para integrar o seu grupo. Para não ter problemas com a autoridade, Galy Gay aceita juntar-se a eles e passa a ser Jeraiah Jip, um guerreiro enraivecido. Ter-se-á Galy Gay deixado manipular ou, pelo contrário, estará a tirar proveito da situação? Será Jeraiah Jip uma personagem onde se refugiou ou terá, de facto, mudado? Onde reside a ambiguidade deste homem que não soube dizer não?

texto Bertolt Brecht
nova tradução François Regnault
encenação Emmanuel Demarcy-Mota
assistente de encenação Christophe Lemaire
música original (harpa) Bruno Mantovani
cenografia e desenho de luz Yves Colle
colaboração cenográfica Michel Bruguière
ambiente sonoro Jefferson Lembeye e Walter N'Guyen
figurinos Corinne Baudelot assistida por Elisabeth Cerqueira e Anne Yarmola
maquilhagem Chaterine Nicolas
acessórios Clémentine Aguettant
consultora literária Marie-Amélie Robilliard
assistente estagiário Matthieu Roy
trabalho de voz Robert Expert
trabalho de corpo Marion Levy
legendagem Mike Sens – MWT
fotografia Jean-Louis Fernandez

com
Hugues Quester | Marie-Armelle Deguy | Phillipe Demarle | Charles-Roger Bour | Jauris Casanova | Sandra Faure | Stéphane Krähenbühl | Gérald Maillet | Sarah Karbasnikoff | Pascal Vuillemot | Laurent Charpentier | Walter N'Guyen | Constance Luzzati (harpa)

Espectáculo co-apresentado com o Instituto Franco-Português, inserido na programação de «Lisboa Teatro Cidade Aberta»
Quinzena do Teatro Francês

Bertolt Brecht
Dramaturgo, poeta e encenador alemão do século XX (1898-1956), Brecht sofreu as consequências da Primeira Guerra Mundial ao assistir à destruição do seu país. Apoiante do regime socialista, como forma de contornar o seu desespero existencial, Brecht apercebeu-se em Berlim e, seguidamente, em Munique, da apetência do público pelo teatro moderno. Influenciado pela estética de Stanislavsky, Meyerhold e Piscator, o dramaturgo alemão constrói a sua obra sobre a teorização do Teatro Épico, para o qual contribuíram leituras de estudos marxistas e sociológicos. “Um Homem é um Homem”, “Mãe Coragem e Seus Filhos”, “A Vida de Galileu”, “O Senhor Puntilla e o seu Criado Matti”, “A Resistível Ascensão de Arturo Ui”, “O Círculo de Giz Caucasiano” ou “A Boa Pessoa Sezuan” foram algumas das suas obras onde, segundo a crítica, encontramos uma amálgama de Naturalismo e Expressionismo comparável à síntese marxista do mercantilismo e do idealismo dialéctico de Hegel.

Emmanuel Demarcy-Mota
Nascido em 1970, actor, dramaturgo e director, desde 2002, do teatro La Comédie de Reims, Emmanuel Demarcy-Mota fundou, em 1989, um grupo de teatro com outros alunos do Liceu Rodin (Paris XIII) onde dirigiu peças de Ionesco, Pirandello ou Wedekind. Reconhecido pelo Sindicato Nacional da Crítica Dramática e Musical com o Prémio de Revelação Teatro pela encenação de “Peine d’Amour Perdue”, de Shakespeare, tem apresentado, enquanto director da Comédie, peças como “Martia Hesse” (2005), de Fabrice Melquiot, “Ionesco Suite” (2005), “Variations Brecht” (2006) ou “Rhiconéros” (2006), de Eugène Ionesco, que conheceu grande sucesso nos palcos franceses.

La Comédie de Reims
Inaugurada em 1968, com o nome de “Espace André Malraux”, o teatro colaborava com regularidade com Robert Hossein. A Comédie adquiriu o estatuto de Centro Dramático Nacional em 1981, sob a direcção de Jean-Pierre Miquel, seguindo-se Jean-Claude Drouot e Denis Guénoun, em 1987. Christian Schiaretti ocupou o lugar em 1991, sucedido, em 2002, por Emmanuel Demarcy-Mota, actual director. O projecto de Demarcy-Mota centra-se, fundamentalmente, em torno de dois eixos: por um lado, o encenador insiste na formação de um colectivo de actores, autores e músicos, unidos por um projecto comum; por outro, tem promovido a abertura da companhia às colaborações internacionais e à residência artística de outros grupos no espaço da Comédie. O investimento na formação do público jovem tem também sido uma das preocupações da sua direcção.
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Mite 2007
mostra internacional de teatro

Bertolt Brecht escreveu uma peça que problematiza a relação do indivíduo
com a sociedade capitalista e que questiona os limites da identidade. Emmanuel Demarcy-Mota regressa ao Teatro Nacional para nos mostrar como lê esta peça, oito décadas depois de ter sido escrita

Ricardo Paulouro

Bertolt Brecht disse: “Um homem é um homem”. O que podemos fazer a um ser humano? Até onde pode um homem mudar? Emmanuel Demarcy-Mota regressa ao TNDM II, depois de “Rhinocéros”, de Eugène Ionesco (MITE’06), com uma leitura contemporânea do texto de Brecht, considerado pela crítica como uma comédia anti-guerra. Uma pesquisa intensa de dois meses levou o encenador francês a pôr em cena uma reflexão sobre aquilo que designa de “novo tipo de homem”, um homem construído, ou melhor, fabricado. Destaque para alguns nomes associados a este projecto, como é o caso de François Regnault que assina esta tradução após outras feitas em colaboração com Emmanuel Demarcy-Mota – “Six Personnages em Quête d’Auteur”, de Pirandello e “Tanto Amor Desperdiçado”, de Shakespeare. Esta última, com a colaboração do Governo Francês, estará, aliás, no TNDM II, em Setembro, num contexto de abertura do teatro ao mundo. A tradução portuguesa de Nuno Júdice e a presença da actriz Dalila Carmo confirmam a dimensão europeia deste projecto.

Destaque ainda, em “Homme pour Homme”, para a presença de Yves Collet que assina as luzes e a cenografia, Jefferson Lembeye e Walter N’Guyen no plano sonoro ou a colaboração do jovem compositor de música contemporânea, Bruno Mantovani, de quem se reproduz uma obra inédita para harpa. Com uma galeria de personagens marcante, também pela densidade psicológica que o texto brechtiano exige, esta peça mostra-nos como Brecht ocupa um lugar importante no século XX, pela forma como questiona a existência humana. O espectador assiste a um processo de transformação ao longo da peça, mas com contradições, avanços e recuos, reforçando como a violência psicológica pode ser angustiante.


Um jogo de identidades
Escrito em 1926, e conhecendo posteriormente outras versões, este texto problematiza a relação do indivíduo com a sociedade capitalista, uma relação incompatível aos olhos de Brecht. Face aos padrões socialmente impostos, resta ao homem aceitar ou contestar, consciente de que a sua identidade é permanentemente ameaçada.

O protagonista desta peça, Galy Gay, descobre como o motor da guerra não é o homem mas sim um conjunto de razões económicas. A actualidade do tema, pelo desenvolvimento psicológico das personagens, pelos diálogos, prende o espectador através da intensidade com que tudo é vivido.

Progressivamente, Galy Gay transforma-se num soldado de Sua Majestade, bruto, sanguinário, manobrado. Quem é então Galy Gay? A esta questão tentou Brecht responder várias vezes, numa tentativa de definir um novo humanismo, sob a bruma do antigo, onde o indivíduo deixe de ser um jogo, um instrumento de um sistema moderno desumano.

A atmosfera da peça é a de um mundo em transformação, onde as identidades se invertem. O homem também se pode transformar numa máquina de guerra, num mundo feito de máquinas, mercantilista e cínico, onde vale tudo. Para Brecht, é na luta colectiva, na luta de classes ou de massas, como diríamos hoje, e não no destino individual, que se encontra a liberdade.

Também Marx o havia dito: a liberdade de um não termina com a liberdade do outro mas, pelo contrário, começa. O registo poético coexiste aqui com o didáctico. Os homens surgem reduzidos a meras funções e, face a estes homens-máquinas, Emmanuel Demarcy-Mota dirige uma máquina cénica, plena de tensão, de jogo, de violência e de ironia. O espectador guarda a magia desse intervalo que o separa do palco – a opção de se transportar, ou não, para aquele espaço, de tentar descobrir quem é, afinal, aquele homem.

sábado, 21 de julho de 2007

IRWIN

A história reconstruída

O grupo Irwin foi fundado em Ljubliana, na Eslovénia, em 1983, sendo constituído por Dušan Mandic, Miran Mohar, Andrej Savski, Roman Uranjek e Borut Vogelnik. Integra, desde 1984, o movimento NSK (Neue Slowenische Kunst), ao qual também está filiado o conhecido grupo de música esloveno Laibach.

Irwin tem vindo a trabalhar com diferentes media, da pintura à arte pública, das obras escultóricas e instalações às publicações. Definindo o “princípio retro” (“retroprincip”) como matriz reguladora do seu processo de trabalho, o grupo utiliza e combina diferentes motivos e símbolos dos campos da política e da arte para submeter o seu significado e conteúdo históricos, assim como as ideologias que lhes estão subjacentes, a um questionamento crítico. A construção e reconstrução da história da arte na (e a partir da) Europa de Leste constituem uma problemática central no trabalho de Irwin.

Esta exposição propõe uma compreensão do universo e das estratégias do grupo através de cinco peças fundamentais de diferentes períodos da sua actividade. Um vasto núcleo de documentação permite aprofundar o conhecimento e a reflexão sobre a praxis do grupo e o contexto histórico (artístico e político) em que esta se inscreve.

Culturgest
até 2 de Setembro 2007
Curadoria:
Rosana Sancin

sexta-feira, 20 de julho de 2007

Miguel Palma - O mundo às avessas


Onze objectos e instalações devolvem o mundo singular de Miguel Palma (Lisboa, 1964), um dos artistas portugueses fundamentais da sua geração. A sua obra é movida por um impulso lúdico, patente no prazer com que o artista se entrega à construção de máquinas e maquinismos, ou à recriação miniatural do mundo, activando e reactivando constantemente as noções de jogo e de brinquedo. Sob essa aparente dimensão lúdica, a que se aliam uma imaginação e um humor transbordantes, o artista comunica uma visão negra do mundo contemporâneo. O mundo que o artista retrata surge-nos frequentemente disfuncional, fechado sobre si mesmo num movimento entrópico, caminhando inelutavelmente para a destruição e a morte.

Culturgest
até 2 de Setembro
Curadoria:
Miguel Wandschneider

quinta-feira, 19 de julho de 2007

Esbjörn Svensson trio


e.s.t

CCB, 22 de Julho 2007

Pianista e compositor, Esbjörn Svensson nasceu em 1964, em Västeras, na Suécia. Com a música no sangue – a mãe era pianista clássica, o pai estava ligado ao jazz – estudou e formou-se em música na Universidade de Estocolmo. e.s.t, o trio agora apresentado, foi formado em 1996. Desde então, gravou nove discos, muitos dos quais receberam as mais elogiosas críticas.
Esbjörn Svensson é um músico aberto a novas experiências, particularmente interessado em sonoridades menos habituais no jazz. Há quem diga que a sua música é uma forma de arte que não se escuda na segurança de um estilo determinado e que, como tal, torna-se mais efectiva. Detentor de um fraseado pianístico particular, o pianista tem criado uma música improvisada, integrando elementos electrónicos e combinações de texturas, com soluções harmónicas e variações melódicas surpreendentes.

A partir de meados dos anos oitenta, foi consolidando o seu estilo e definindo uma linguagem única, apoiada no reforço de excelentes e igualmente criativos músicos: o contrabaixista Dan Berglund e o baterista Magnus Öström.

quarta-feira, 18 de julho de 2007

Lisboscópio

Na Gulbenkian, 20 de Julho a 12 de Agosto de 2007.

Lisboscópio é o título de uma instalação criada por Amâncio (Pancho) Guedes e Ricardo Jacinto para a 10ª Exposição Internacional de Arquitectura Bienal de Veneza 2006.

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“LISBOSCÓPIO é uma arquitectura de espaço criada por Amâncio (Pancho) Guedes e Ricardo Jacinto. É um dispositivo efémero e móvel, cuja construção explora a utilização de matérias que anunciam a transformação da cidade.

No seu primeiro momento de concepção foi imaginado a habitar e ser habitado no Esedra. Posteriormente, formou-se como unidade de um corpo múltiplo que se fecha para viajar e se abre para mostrar, e ser experienciado noutros lugares. No sítio, LISBOSCÓPIO ocupa a sua geografia e redefine um lugar. O corpo-contentor anelídeo constrói-se com tubos, redes, telas e madeiras, reproduzindo-se, recriando-se e aparentando-se, sem alguma vez se constituir como igual.

LISBOSCÓPIO contém um pulsar sussurrado de uma cidade perscrutada que flui dentro do seu intricado sistema activo contínuo e fragmentado, comunicante e aberto. O espaço diáfano é ocupado por uma estrutura que se cria como matéria e espaço impulsores da experiência. Na passagem, os momentos de pausa exploram e desvendam uma funcionalidade simples que activa na experiência de habitar uma compressão do espaço e expansão dos sons que se propagam num movimento com desfasamento temporal. LISBOSCÓPIO poderá habitar-se como lugar, através de um estar performativo e resiliente, sendo o corpo um espaço da sua experimentação que sugere a passagem como tempo habitado sem territorialização.”

Trienal Arquitectura Lisboa

terça-feira, 17 de julho de 2007

Temporada 200708 CCB anunciada

Uma nova temporada, uma nova orquestra: a temporada 2007-2008 do Centro de Espectáculos do CCB inicia-se no dia 13 de Setembro, com a primeira apresentação pública de uma nova orquestra, a Orquestra de Câmara Portuguesa, fundada e dirigida por Pedro Carneiro. Esta dupla estreia assinala também o princípio da colaboração de Pedro Carneiro como Artista Associado da Temporada, um estatuto que o trará por diversas vezes às salas do CCB, pontuando a programação de música com as suas intervenções, quer como solista, quer como maestro da OCP.

Na programação de Música Clássica destaca-se o especial enfoque que será dado a dois compositores: no último trimestre de 2007, abordar-se-á a obra de Edvard Grieg, compositor norueguês cujo centenário da morte passa este ano; e o primeiro semestre de 2008 porá em destaque a obra de Ludwig van Beethoven, tendo em vista, já na temporada seguinte, a reconstituição do célebre concerto de Viena, efectuado em 22 de Dezembro de 1808. É o projecto Beethoven 2008, que atravessará a programação do ano que vem. O ciclo de piano consagrado ao compositor, constituído por 5 recitais a realizar em Janeiro, e a integral dos trios com piano (em Maio) são as duas primeiras etapas deste itinerário beethoveniano.

Nesta temporada, o CCB apresentará duas grandes oratórias: em Dezembro, a Oratória de Natal, e em Março A Paixão Segundo S. João, ambas de Johann Sebastian Bach; e voltará a abrir as suas portas à Orquestra Sinfónica Portuguesa e à Orquestra Metropolitana de Lisboa. A orquestra barroca Divino Sospiro, em residência no CCB, percorrerá a temporada, apresentando-se com solistas e maestros como Enrico Onofri, Christina Pluhar, Gaetano Nasillo; e a OrchestrUtopica voltará a actuar em residência no CCB, de Janeiro a Julho de 2008.

Na semana da Páscoa, dar-se-á continuidade à iniciativa PontoContraPonto, estreada em 2007 com Haydn e Sofia Gubaidulina. Desta vez, sob o tema Stabat Mater, a orquestra Divino Sospiro oferecer-nos-á o de Boccherini, enquanto a OrchestrUtopica estreará o Stabat Mater encomendado pelo CCB a Eurico Carrapatoso, peça para barítono, coro de câmara e orquestra.

Abril será inteiramente dominado, na programação musical, pela segunda edição dos Dias da Música em Belém, dedicada ao “prazer de tocar em conjunto“, numa panorâmica da música de câmara que vai da música de corte à sala de concertos moderna, passando pelo que se fazia nos salões burgueses. Em Junho, o CCB convida Sequeira Costa para uma curta residência de uma semana, em que o celebrado pianista aqui se apresentará pela primeira vez, em dois recitais, e com uma master-class. E, em Julho, propomos um fim-de-semana dedicado à Música Portuguesa, Hoje, abordando a criação musical contemporânea nas suas diversas vertentes: erudita, jazz, improvisada, electrónica.

O Jazz estará em destaque com a presença no Grande Auditório do trio de Ahmad Jamal, do quinteto de Enrico Rava, de Dee Dee Bridgewater; a partir de Maio, voltará a haver Jazz às 5.as, na Cafetaria Quadrante; e em Julho, o CCB vai promover a primeira Lisbon Jazz Summer School, com a presença de músicos portugueses e internacionais.

Outros grandes nomes passarão pelo CCB, nesta Temporada: Jorge Palma com Quarteto de Câmara (uma Carta Branca dada pelo CCB), David Sylvian, Maria de Medeiros com Daniel Blaufuks, Mayumana, o Mistério das Vozes Búlgaras, Meredith Monk, Rosa Passos são alguns deles.

A programação de Dança é dominada por Um Festival Pina Bausch, a realizar em Maio de 2008, uma iniciativa promovida em co-produção com o Teatro Municipal de S. Luiz. O CCB apresentará duas grandes produções da companhia de Pina Bausch, Néfes, criação de 2005, e Mazurka Fogo, encomenda da Expo’98, que volta ao palco do Grande Auditório dez anos depois da estreia. A apresentação da companhia Rosas, de Anne Teresa de Keersmaeker, da coreografia de William Forsythe Impressing the Czar e de Akram Khan com o Ballet Nacional da China (em co-produção com o Festival Alkantara) são outros momentos altos de uma temporada que traz ainda ao CCB Rui Horta, Paulo Ribeiro e Leonor Keil, e Cláudia Nóvoa.

O encenador canadiano Robert Lepage abre a programação de Teatro com a sua Trilogia dos Dragões, e o CCB apresentará, pela primeira vez em Portugal, o trabalho de uma das mais notáveis encenadoras italianas da nova geração, Emma Dante, num ciclo em que se mostrarão três produções da sua autoria. Manuel Wiborg estreia no CCB com a sua produção de Moby Dick, com texto de José Maria Vieira Mendes e música de José Eduardo Rocha, e o Teatro Praga encena O Avarento, a partir de Molière.

Em Julho e Agosto, os espaços exteriores do CCB vão de novo abrir-se à criatividade dos programadores, num projecto que visa fazer o público viver o edifício em toda a sua diversidade: é o CCB Fora de Si.

sexta-feira, 13 de julho de 2007

A Charrua e as Estrelas - Bernard Sobel


de Sean O'Casey, encenação de Bernard Sobel com a colaboração de Francis Seleck e assistência de Sophie Vignaux.
Criação no Festival de Almada.
Teatro de Almada, 17 e 18 de Julho de 2007

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A charrua e as estrelas relata o Levantamento da Páscoa de 1916, liderado por Pádraic Pearse (Comandante dos Irish Volunteers) e James Connolly (Comandante do Irish Citizen Army), e que redundou numa revolta falhada. No total, não participaram no Levantamento contra a ocupação britânica mais de 2.000 homens. Esta tomada de posição, heróica mas insensata, marcada pela indecisão, falta de comunicações, falta de poder de fogo e falta de apoio geral, foi facilmente esmagada pelas forças britânicas no espaço de uma semana. Pearse, Connolly e treze outros líderes foram sumariamente executados. Estas execuções marcaram a alteração do clima político na Irlanda e precipitaram a guerra de guerrilha pela independência, que conduziu à assinatura do Tratado entre a Bretanha e a Irlanda, em 1921, e ao estabelecimento de um Estado livre no Sul.
Christopher Murray

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Olá, artistas
Se é verdade que com A charrua e as estrelas O’Casey faz um ajuste de contas com uma página da História do seu país e da sua cidade, a “Páscoa sangrenta de 1916”, em Dublin, hoje em dia esta peça fala-nos de outra coisa: a história de seres humanos que, num momento de desordem, são arrancados às suas vidas normais e cujos fundamentos das suas existências ficam transtornados. Seres humanos que tentam, de uma forma dolorosa, escapar a qualquer preço às consequências desta desordem. Fazem-no construindo papéis para si próprios, pondo máscaras, alucinando ideias, como se fossem artistas. Resistem, antes que se desencadeie a violência que pesa sobre eles a cada instante, na sua miséria e na sua pobreza. Resistem através da presença quotidiana da morte, que lhes serve de quadro de vida.

Funâmbulos de uma arte de viver que consiste em segregar fantasmas, são cegos relativamente à miséria da sua condição. Se a violência vier a rebentar, essas construções desmoronam-se, sem que tenham no entanto consciência disso. Desnorteados, atiram-se sobre tudo o que lhes vier à mão, durante uma pilhagem generalizada. Os despojos fazem-nos esquecer por um instante a perda do heroísmo dos papéis que tinham construído para si próprios. Sonho e avidez, teatro e embriaguez: entre estes dois extremos perde-se o instinto vital de aproveitar a possibilidade, que qualquer desordem oferece, de agarrar o seu destino.
Bernard Sobel

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Intérpretes
Alberto Quaresma
Bruno Martins
Catarina Ascensão
Catarina Guimarães
Cecília Laranjeira
Elsa Valentim
Francisco Costa
Jorge Silva
Luís Ramos
Maria Frade
Mário Jacques
Miguel Martins
Pedro Walter
Teresa Mónica
Tiago Barbosa

Tradução
Helena Barbas
Cenografia
Jacqueline Bosson
Figurinos
Mina Lee
Som
Bernard Vallery
Luz
Vincent Millet
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Bernard Sobel

sexta-feira, 6 de julho de 2007

Sizwe Banzi est mort - Peter Brook


Sizwe Banzi est mort
Théâtre
Création 2006

Teatro de Almada
6 a 9 de Julho de 2007

de Athol Fugard, John Kani, Winston Ntshona
Mise en scène Peter Brook
France

Adaptation française
Marie-Hélène Estienne
avec Habib Dembélé, Pitcho Womba Konga

Production
CICT / Théâtre des Bouffes du Nord

Après avoir mis en scène plusieurs pièces en Angleterre pour la Royal Shakespeare Company, Peter Brook fonde à Paris en 1971 ce qui deviendra, lors de son installation au Théâtre des Bouffes du Nord, le Centre international de créations théâtrales. Sa démarche originale consiste à s’ouvrir à toutes les formes, à tous les codes de représentations théâtrales développés aussi bien en Occident qu’en Orient ou en Afrique. Il constitue, pour travailler ce répertoire, une troupe au recrutement international où chaque membre apporte ses propres pratiques théâtrales pour les confronter et les enrichir.
Cette curiosité insatiable pour des univers différents a permis d’offrir au public soit la découverte de mondes nouveaux à travers des textes comme le Mahâbhârata, Je suis un phénomène ou Le Costume, soit la redécouverte de textes classiques – Hamlet de Shakespeare ou La Cerisaie de Tchekhov – dans des formes nouvelles, pour chercher inlassablement à faire de la scène le lieu indispensable du questionnement sur « la vérité de la vie ».
Peter Brook est aussi metteur en scène pour l’opéra, réalisateur de cinéma et auteur de plusieurs textes sur le théâtre.

C’est la première création en France pour ce texte écrit dans les années soixante-dix par un auteur blanc et deux auteurs noirs : un théâtre historiquement lié à la période de l’apartheid en Afrique du Sud, puisqu’il était écrit et représenté dans les townships, ces réserves urbaines où furent parqués les Noirs. Un théâtre, né dans le quotidien de ces villes-ghettos, dont la matière est faite essentiellement des éléments de la vie réelle des populations noires, un théâtre de la nécessité écrit et joué pour que le spectateur puisse se réapproprier sa propre vie, un théâtre de la dérision et du rire, un rire cruel pour lutter contre la cruauté de la vie ordinaire hors les murs du théâtre.
C’est cette prise en direct de la réalité et de la « vie véritable » par le théâtre qui intéresse au plus haut point Peter Brook, trouvant ici également la possibilité de poursuivre son dialogue avec l’Afrique et avec les acteurs africains ; il retrouve ici notamment le célèbre acteur Habib Dembélé. à travers la recherche que mène Sizwe Banzi, le personnage principal, pour trouver des « papiers en règle », c’est à la description de la violence du système inhumain de l’apartheid que se livrent les auteurs, en le rendant dérisoire et vain, annonçant de façon prémonitoire son effondrement.
Théâtre de la résistance par l’humour, par la distance ironique et drôle, il dépasse ainsi les raisons circonstancielles de sa création pour devenir une fable universelle, entendue de manière encore plus aiguë dans un monde qui supporte de plus en plus mal les situations soi-disant irrégulières. « Qu’est-ce qui se passe dans ce foutu monde ? Qui veut de moi ? Qu’est-ce qui ne va pas avec moi ? »… Combien de Sizwe Banzi se posent aujourd’hui ces questions ?
Jean-François Perrier


Peter Brook