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sábado, 1 de outubro de 2005
Os Animais Domésticos
Tragédia de Letizia Russo encenada por Silva Melo
Teatro D. Maria II, Lisboa, até 23 de Outubro
Artistas Unidos
Uns cegos, uma mãe que aguarda o regresso do seu filho, gente que passa, amantes encontrados e reencontrados, um filho que se liberta, a educação que prende, gente que espera e perde, as apostas de vida, cães vadios, a vida tumultuosa, o vai vem, miséria e honra. E a fúria dentro de cada um.
Quem manda em quem? Quais os modos de mandar, de prender, de afirmar a própria existência perante o outro?
Há por estas ruas uma violência que foi domesticada. Ou que reabre as suas fendas.
As feras voltam. E com elas as fúrias.
CÃO 2 – Que te importa um pontapé se depois te dão de comer.
CÃO 1 – Um pontapé dói.
CÃO 2 – E a fome não.
Letizia Russo. Os Animais Domésticos
Cerca de quatro séculos antes de Cristo, Aristóteles, naquilo que é a obra de teoria e de crítica literária mais importante da cultura ocidental, dá-se ao trabalho de definir aquilo que é e o que deve ser a tragédia - para ele, o género literário por excelência. O seu grande modelo é o Rei Édipo, de Sófocles; as situações são trágicas quando acontece um azar a alguém que não precisa de ser um génio, ou um Deus, mas que está bastante acima da média; uma má escolha, um mau passo, e as consequências são funestas. Claro está, a culpa tem um papel muito reduzido; as circunstâncias, pode dizer-se de maneira algo redutora, são tudo. Mais, o desgraçado herói trágico é, idealmente, um ser cuidadoso, escrupuloso, pronto a reconhecer (depois do mal feito) aquilo que só então se pode reconhecer como erro.
João Carneiro, Expresso
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