
Teatro D. Maria II, Lisboa, até 23 de Outubro
Artistas Unidos
Uns cegos, uma mãe que aguarda o regresso do seu filho, gente que passa, amantes encontrados e reencontrados, um filho que se liberta, a educação que prende, gente que espera e perde, as apostas de vida, cães vadios, a vida tumultuosa, o vai vem, miséria e honra. E a fúria dentro de cada um.
Quem manda em quem? Quais os modos de mandar, de prender, de afirmar a própria existência perante o outro?
Há por estas ruas uma violência que foi domesticada. Ou que reabre as suas fendas.
As feras voltam. E com elas as fúrias.
CÃO 2 – Que te importa um pontapé se depois te dão de comer.
CÃO 1 – Um pontapé dói.
CÃO 2 – E a fome não.
Letizia Russo. Os Animais Domésticos
Cerca de quatro séculos antes de Cristo, Aristóteles, naquilo que é a obra de teoria e de crítica literária mais importante da cultura ocidental, dá-se ao trabalho de definir aquilo que é e o que deve ser a tragédia - para ele, o género literário por excelência. O seu grande modelo é o Rei Édipo, de Sófocles; as situações são trágicas quando acontece um azar a alguém que não precisa de ser um génio, ou um Deus, mas que está bastante acima da média; uma má escolha, um mau passo, e as consequências são funestas. Claro está, a culpa tem um papel muito reduzido; as circunstâncias, pode dizer-se de maneira algo redutora, são tudo. Mais, o desgraçado herói trágico é, idealmente, um ser cuidadoso, escrupuloso, pronto a reconhecer (depois do mal feito) aquilo que só então se pode reconhecer como erro.
João Carneiro, Expresso
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