

Serão actualizados com algum tempo...
Música, dança, teatro, cinema, literatura, exposições, conversas, etc.
Coreografia | William Forsythe
Música | Thom Willems, Leslie Stuck, Eva Crossman-Hecht e Ludwig van Beethoven
Directora | Kathryn Bennetts
Cenografia | Michael Simon
Figurinos | Férial Simon
Consultor técnico | Olaf Winter
Desenho de som | Bernhard Klein
“Alinhadas numa fila estão doze cadeiras desdobráveis. E em redor apenas uma sala nua com um negrume vazio e pesado. Não é assim que começa o Lago dos Cisnes! Onde está o Jardim, o Castelo, os convivas em vestes festivas? Onde está o aniversariante, o Príncipe Siegfried, cuja maioridade está a ser festejada? Com vozes russas, distante, um som quebrado, um Lago dos Cisnes esganiçado em vinil. A ‘Introdução’ de Tchaikovsky bem tenta em vão preencher o vazio dos primeiros minutos. À espera do quê? Por fim chega alguém. Não é o príncipe: trata-se de Raimund Hoghe, o coreógrafo em pessoa. Um duende de negro, metro e meio de altura, corcunda. Será de confiança?
Na pele de ‘Mestre de Cerimónias’ acende uma vela, no fundo do palco, senta-se e aguarda. Até chegar um segundo homem para esperar com ele, e um terceiro, todos de t-shirt e calças. E então chega uma mulher. Saltam à vista os traços refinados do seu rosto, o pescoço elegante, o andar clássico, os sapatos de salto alto. A sua aura de bailarina poderia cair bem a ambos os papéis, a jovem cisne recatada Odile e a negra, fria e calculista Odette, com as suas vibrações provocadoras e magnéticas. Senta-se e faz o mesmo que os demais. Nada.
Estranho jogo. Entre o público sente-se a inquietação. Está prestes a decidir-se, êxito ou fracasso? Talvez seja agora que os primeiros espectadores abandonam a sala. Hoghe sabe como manter a incerteza e leva-a à exaustão. Repentinamente começa o ritual, um sonho hipnotizante onde o ser e o parecer, ilusão e realidade, se fundem. Sempre com trechos da famosa partitura, é fácil deixarmo-nos ir…”
Marianne Mühlemann
Der Bund, 18.06.2007 (Trad. Nuno Bom de Sousa)
Europeu simultaneamente moderno e arcaico, contemporâneo e mitológico, Raimund Hoghe é uma personalidade siderante. Coreógrafo, bailarino, performer e quase artista plástico, parece conhecer tudo o que diz respeito ao palco como se fosse a sua alma, lenda ou memória. Raimund Hoghe foi jornalista, escritor em Wuppertal, tornou-se o dramaturgo de Pina Bausch. E um belo dia, este homem pequeno e corcunda de olhar ora penetrante ora desarmado, deu o salto. Torna-se o dramaturgo da sua própria diferença, o argumentista de um corpo radicalmente outro, mais vasto do que o mundo, reflexo dos nossos segredos mais insondáveis.
Daniel Conrod
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