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domingo, 24 de junho de 2007

A Montanha op. 35 / Metanoite

Ópera
29 e 30 de Junho. Gulbenkian

Co-produção: OrchestrUtopica, orquestra residente deste projecto

Entre as várias encomendas e produções novas feitas expressamente para o Fórum Cultural “O Estado do Mundo”, contam-se duas óperas encomendadas a dois compositores portugueses, aos quais, em total liberdade de criação, se propôs que respondessem subjectiva, musical e dramaturgicamente ao estado do mundo. Convidaram-se igualmente dois encenadores que, com as equipas de criadores por eles constituídas, apresentaram as suas “respostas”.

A Montanha op. 35
Ópera de câmara

Sobre a Montanha escreveu, o compositor Nuno Côrte-Real:
“Quase mitologia, A Montanha ergue no seu tom interior (leia-se som), sentimentos de desejo por uma profunda mudança na forma de viver, alicerçada no regresso à Natureza e numa universal comunhão ética e amorosa entre os homens. Utilizando a poesia de Pascoaes como estrutura (retirada sobretudo do poema Maranus), recorre também à lírica de Camões e de Pessoa, entre outros, confluindo todos eles na visão humanística e espiritual de Agostinho da Silva, de produzir beleza, de amar os homens e de louvar a Deus. O mundo acaba sempre por fazer o que sonharam os Poetas.”

Compositor e Libreto: Nuno Côrte-Real
(Libreto baseado no poema “Maranus” de Teixeira de Pascoaes)
Maestro e Director Musical: Cesário Costa
Encenação e Cenografia: Carlos Antunes
Figurinos e Assistente de Encenação: Teresa Vicente
Fotógrafa: Helena Gonçalves
Desenho de Luz: Cristina Piedade
Pianista correpetidor: Nuno Barroso
OrchestrUtopica
Soprano: Eduarda Melo
Soprano: Teresa Gardner
Barítono: Luís Rodrigues
Actor: Rui Baeta


Metanoite

Sobre esta ópera escreveu, o compositor João Madureira
:
”Metanoite é uma ópera que reflecte sobre o estado do mundo neste microclima que é o meio artístico erudito nos nossos dias – as suas contradições, surpresas e perplexidades. E é também uma reflexão sobre o modo como pensamos e sobre a própria linguagem que usamos e que a nós nos usa.”

E o encenador André e. Teodósio comentou:
”Um espectáculo poço. Conjuga-se assim: Eu poço, tu poço, nós podemos. Como o poço da Torre dos Namorados. Os avós ao longe, o abismo aos pés e, entre nós, a imensidão da Beira Baixa que se estende.
(…)
Ainda não sei o que farei, mas sei o que não farei. Não farei nada sem fulgor (cheio para quem gosta, vazio para quem não gosta).
(…)
Promessa Llansoliana: Deixar de ser o rebelde (duplo do eremita), mas não desistir de tentar quebrar a impostura da língua do Príncipe.”

Compositor: João Madureira
Libreto: a partir de “O Senhor dos Herbais” e outros livros de Maria Gabriela Llansol
Adaptação: João Barrento
Maestro e Director Musical: Cesário Costa
Encenação: André e. Teodósio
Cenografia e Figurinos: Catarina Campino e Javier Núñez Gasco
Desenho de Luz: Cristina Piedade
Pianista correpetidor: Pedro Vieira de Almeida
OrchestrUtopica
Mezzo Soprano: Sílvia Filipe
Soprano: Sónia Alcobaça
Barítono: Mário Redondo
Actriz: Maria João Machado, Mónica Garnel, Paula Sá Nogueira

Co-Produção: Fundação Calouste Gulbenkian - O Estado do Mundo/OrchestrUtopica

_______
Agora
(blog de Mendonça Escoto Teodósio,
Quarta-feira, Maio 16, 2007)


Agora que voltei de Krefeld (só volto a viajar, se o fizer, com o Gift em Novembro) deixei de ser humano (seres humanos do marty está quase a estrear).
Quero ir ver tanta coisa
desde o marty
ao sérgio godinho.
Duvido que vá ver tudo.
Mas vou a casa do Otello. FESTA.... para desanuviar.

Entretanto escrevi o texto para a folha de sala da metanoite.
Aqui está:


Metanoite

“Quando eu vim para esse mundo
Eu não atinava em nada
Hoje eu sou Gabriela”
Dorival Caymni

1. Quando eu vim...
Se, como dizem Slavoj Zizek e Mladen Dollar, a ópera não morrerá nunca porque nasceu morta e obsoleta perseguindo uma ideia ontológica de arte total (Gesamtkunstwerk), a pergunta que me resta é O que fazer? Velar pelo tal ‘corpus’ enquanto espero, qual herói operático, pelo gesto de clemência do Outro? Eles respondem a páginas tantas: The more opera is dead, the more it flourishes. Portanto, nada fazer de contemporâneo. Mas se, tal como uma Gabriela, eu vim para este mundo e não atinava em nada, Eu, que sempre encarei o/a _____ como um gigante relicário, um anacronismo grotesco, um (re)viver constante do passado perdido, que sempre reflecti sobre a Aufklärung perdida, que como a verdadeira Gabriela, sempre renunciei ao realismo, à linearidade, às ditaduras invisíveis do métier e da sociedade e não da comunidade... Deverei eu temer alguma coisa?
Encaro a encenação de uma ópera como total artístico, sempre a partir de mim como modus operandi entre as partes que funcionam por igual, mas não pode passar incólume o fascínio que a obra da verdadeira Gabriela desperta (em mim, também claramente na obra do dramaturgista, e do compositor).
‘Metanoite’ é assim uma homenagem.

2. Eu não atinava...
Sou (ou direi, somos?) acusado de metaforizador, de experimental, de simbolista, de surrealista, de abstraccionista, de filósofo, de intelectual, de elitista, de fashion, de plagiador, etc e tal; pois na senda da tal música respondo: “Eu nasci assim, eu cresci assim, e sou mesmo assim, vou ser sempre assim...” porque, terei a veleidade de dizer que o problema não é meu, nem é da Gabriela, da verdadeira, mas o de uma cultura débil, que como paradigma, cataloga a autora de mística New Age, e o encenador de devoto da French Theory (abstenho-me de pronunciar qualquer categoria atribuída ao compositor e ao dramaturgista), e como paradoxo, tem a seu bel-prazer, e quando mais lhe convém, o despudor de o/a nomear como “autor nacional”.
Gabriela, ainda a verdadeira, desmarca-se de qualquer uma das possibilidades do mundo calculista. A pergunta que há tempos lançámos, eu e um André báltico, num outro espectáculo (que muito deve à obra literária de Llansol), aplica-se aqui na perfeição: Why mathematics instead of metamatics?
Guardini: (alertando para o fim da idade moderna).........................
Llansol: (não diz nada e de socapa vai edificando o novo tempo [que inclui tanto os múltiplos presentes, como o linear passado e abertura para o/s enigmático/s futuro/s se estes não forem já o jetzt hic et nunc)].

3. Hoje eu sou...
Esta ópera não poderá ter nunca uma sinopse suficiente e não terá nunca uma interpretação correcta. Disto não está/va o mundo óh-p[e)rático à espera.
Metanoite é um mundo nunca visto e ouvido, um mundo em constante mutação, uma noite dia e uma noite noite, um fairy tale contemporâneo (finalmente), onde ficção, filosofia e realidade coexistem com todas as potencialidades inerentes a cada um dos ismos (embora seja definitivamente o PoMo o único a permitir este complexo poder rizomático, desculpe-me Castoriadis), onde hipertexto, teoria dos jogos, entretenimento polido e por polir vs. Arte com A grande, bosque de significados e significantes metafóricos e alegóricos e directos, Penamacor + Torre dos Namorados, onde todos convivem, devolvendo ao legente a possibilidade de Dasein (tudo aquilo que podemos ser e que, como já sabemos nos, é impossibilitado pela famosa ‘ditadura invisível’).
Assim, eu também sou Gabriela.

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