Morton Feldman
Morton Feldman e Samuel Beckett: Neither
Morton Feldman Writes an 'Opera' (December 11, 1978), By Tom Johnson, from the December 11, 1978 Village Voice. A review of Neither. Excerto:
Many of us who have followed the highly abstract output of Morton Feldman over the years were surprised to learn that he had composed an opera, and it is perhaps still questionable whether he really has. 'Neither,' which was written for the Rome Opera two seasons ago and received its first New York performance in the Group for Contemporary Music series on November 21, might be better described as an hour long art song. Samuel Beckett's libretto consists of exactly 87 words, which are sung exclusively by a solo soprano. The only truly dramatic moment in the performance at Borden Auditorium at the Manhattan School of Music was the soprano's entrance. After a few minutes of introductory music by the large onstage orchestra, the singer slowly ascended on a platform behind the musicians, where she remained, score in hand, for the rest of the performance. Is it an opera, an art song, or just another remarkable Feldman work? However one might choose to categorize it, 'Neither' is a gorgeous piece of music, and quite possibly the richest, most rewarding work of the whole Feldman catalogue.
Projecto Feldman - Colóquio Internacional
Morton Feldman Page
Morton Feldman - Biografia e Discografia
Aulas e Comentários na Universidade de Buffalo, Nova Iorque
Morton Feldman - Art of the States
"Segurar o momento " - Artigo no Expresso, 2004.04.09, para utilizadores registados. Excerto:
Berlim, Schiller Theater, Setembro de 1976. Morton Feldman conhece Samuel Beckett. Quer convencer o escritor a colaborar numa obra encomendada pela Ópera de Roma. Sentam-se num café próximo, Beckett pede uma cerveja e diz: «Mr. Feldman, eu não gosto de ópera nem de ver as minhas frases inseridas na música». O compositor responde: «Percebo perfeitamente. Também é raro utilizar palavras, apesar de ter escrito peças vocais». Ao que Beckett interroga: «Então, o que é que você quer?» «Não faço a menor ideia», remata Feldman.
"A quadratura do caos" - Artigo no Expresso, 2004.05.01, para utilizadores registados. Excerto:
Beckett escreveu para Feldman um texto de 87 palavras, Neither. A linguagem é quase binária, nem isto nem aquilo, para lá e para cá, penetrável e impenetrável, com sombra interior e exterior, aberta e fechada, um ou outro. Música, letra, pintura, são tudo caligrafias. A realização musical no São Carlos, com a fabulosa Petra Hoffmann e uma Orquestra Sinfónica Portuguesa em grande forma, sob a direcção exigente de Emilio Pomàrico, constituiu um marco histórico para a cultura em Portugal. (Veio-me à mente a estreia do Wozzeck por Pedro de Freitas Branco, em 1959.) Ainda por cima, a direcção teve o cuidado de rodear o evento duma série de quatro mini-concertos e dum estimulante colóquio (na Culturgest) para «Falar de Feldman». Mas onde estavam todos os estudantes (e professores) dos nossos conservatórios?
Teatro Nacional de São Carlos
Abril 2004
Neither
Morton Feldman
1977. For chamber orchestra and soprano.
Estreia em Portugal
Direcção musical
Emilio Pomàrico
Instalação
David de Almeida
Desenho de luzes
Pasquale Mari
Orquestra Sinfónica Portuguesa
Nova Produção
Teatro Nacional de São Carlos
Numa estreia absoluta em Portugal, Neither, com música de Morton Feldman e texto de Samuel Beckett, sobe ao palco do São Carlos, sob a direcção de Emilio Pomàrico.
A relação entre Feldman e Beckett começou em 1976 quando se conheceram em Berlim no Teatro Schiller. A empatia inicial resultaria num almoço durante o qual o compositor pediu ao seu recente amigo um texto que atingisse de algum modo a essência, algo que conseguisse manter-se num plano etéreo. O trabalho de Beckett demoraria apenas algumas semanas até chegar às mãos de Feldman, que inicialmente considerou o texto peculiar, aproveitando com astúcia a ideia central, explorando-a de vários modos.
Na verdade, Neither, é resultado de uma co-elaboração entre duas mentes claramente dotadas de um sentido apuradíssimo e de extrema sensibilidade na forma como abordam a questão existencial centrada na compreensão do indivíduo e do Universo.
Tanto a música como o texto trabalham em conjunto com o objectivo de transmitir uma intensidade que resulta da tensão estética e emocional liberta, neste caso, de qualquer elemento que caracteriza a ópera, como o facto de não ter uma história ou enredo, e, consequentemente, não apresentar quaisquer momentos de confrontação dramática ou de «mise en scène». O recurso à questão existencial, por parte de Beckett, é apoiado de forma bastante coerente pelos elementos musicais que invocam vários ambientes e produtos da própria memória, como os fantasmas ou os ecos. Assim, a temática abordada situa-nos entre o que é conhecido e desconhecido, entre dois mundos sobre os quais apenas queremos saber qual é real.