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sexta-feira, 27 de fevereiro de 2004
Werther - Johann Wolfgang Goethe
Ópera "Werther" de Massenet: São Carlos Fevereiro/Março de 2004.
Ópera inspirada na obra de Goethe: "Die Leiden des jungen Werthers" ("Os sofrimentos do jovem Werther").
Sobre Johann Wolfgang Goethe...
Francoforte-sobre-o-Meno, 1749 Weimar, 1832
Escritor alemão, é a maior figura da literatura alemã e uma das principais da literatura universal. Além disso é, de todos os poetas alemães, o que resume a sua época com mais exactidão e clareza. Nasce no ambiente culto da burguesia protestante de Francoforte. Estuda Direito e cultiva o seu gosto pelas ciências e as artes. Herder inculca-lhe a ideia de que a poesia é um dom universal e popular e não só património de alguns homens cultos. Dá-lhe também a conhecer as obras de Homero, Shakespeare e Ossian. A influência de Shakespeare inspira-lhe o drama Götz von Berlichingen, em que se manifesta o espírito de liberdade que naquele tempo reina na Alemanha. A partir desta obra, Goethe retira os argumentos do fundo do seu espírito. A Paixão do Jovem Werther, romance epistolar, conta um amor sem saída que acaba em suicídio. A sua influência na Alemanha, e em toda a Europa, é enorme. Outro drama seu, Egmont, é um canto à liberdade.
Aos vinte e seis anos inicia a sua carreira política. Em Weimar, modesta capital do ducado, Goethe dedica-se a uma vasta actividade de organizador e reformador. Converte a cidade num centro cultural de primeira ordem; nela estabelecem-se Herder, Wieland e Schiller. Neste decénio (1775-86), Goethe interessa-se também pelas ciências, particularmente pela mineralogia, a botânica e a óptica.
Em 1786 inicia uma viagem a Itália, a partir da qual é atraído pelo classicismo tomado das suas fontes originais e não da tradição francesa. A expressão mais pura do seu entusiasmo pela Antiguidade é o drama Ifigénia em Táurida. Desta época são a sua Viagem a Itália e as Elegias Romanas. No seu regresso de Itália torna-se íntimo do poeta Schiller, que goza de grande fama. Colabora com ele no Almanaque das Musas.
Goethe passa a maior parte da sua vida na corte de Weimar como conselheiro do duque Carlos da Saxónia. As obras dos seus últimos anos, em que se fundem a serenidade clássica e a paixão romântica, são Os Anos de Aprendizagem de Wilhelm Meister (uma espécie de confissões romanceadas, em que se inclui o relato autónomo de As Afinidades Electivas), Hermann und Dorothea (poema de ambientação contemporânea) e, sobretudo, o Fausto. Nesta obra, que ocupa toda a sua vida, Goethe recolhe a lenda medieval do doutor Fausto, que faz um pacto com o diabo para ultrapassar os limites do saber, recuperar a juventude e conseguir o amor de Margarida. Com este argumento, que não parece grande coisa, Goethe escreve um poema de densidade e transcendência filosófica extraordinárias.
O estilo literário de Goethe não pode definir-se em poucas linhas. Passa, sucessivamente, pelo Sturm und Drang, pelo classicismo helénico e pela procura do supra-sensível. Pode dizer-se que é, alternadamente, um clássico e um romântico.
Um pensamento de Goethe...
O que sabemos, sabemo-lo afinal apenas para nós mesmos. Se falo com alguém daquilo que julgo saber, acontece que imediatamente ele supõe saber o assunto melhor que eu, e sou obrigado a regressar a mim mesmo com o meu saber. O que sei bem, sei-o apenas para mim. Uma palavra pronunciada por outro raramente constitui um estímulo. Na maior parte das vezes suscita contradição, paralisia ou indiferença. Instruamo-nos primeiro a nós próprios e seremos depois capazes de receber instruções dos outros. Em boa verdade aprendemos sempre em livros que não somos capazes de avaliar. O autor de um livro que fôssemos capazes de avaliar teria que aprender connosco. Muitos há que têm orgulho no que sabem. Face ao que não sabem costumam ser arrogantes. No fundo só se sabe quando se sabe pouco. À medida que cresce o saber, cresce igualmente a dúvida.
Johann Wolfgang von Goethe, in "Máximas e Reflexões"
Sobre a História "Os sofrimentos do jovem Werther de Johan Wolfgang von Goethe...
Ao escrever Os Sofrimentos do Jovem Werther, Goethe produziu uma obra de arte a que deu, como conteúdo, as suas próprias aflições e seus tormentos, os seus próprios estados de alma, procedendo como todo poeta lírico que, ao procurar aliviar o coração, exprime aquilo de que é afectado enquanto sujeito. Graças a isso, o que era interior imobilidade acha-se livre e transforma-se num objecto exterior de que a pessoa se libertou. Do mesmo modo as lágrimas servem de derivativo à dor do que, por assim dizer, se esvai através delas. Como ele mesmo o disse, Goethe escreveu o Werther para se libertar da angústia íntima, e conseguiu-o.
Em tais situações líricas, pode reflectir-se, por um lado, um estado objectivo, uma actividade referenciada ao mundo exterior, e, por outro lado, um estado da alma que, desligando-se de tudo o que é exterior, regressa a si mesma e torna-se o ponto de partida de estados internos e de sentimentos profundos.
Era 4 de Maio de 1771. O jovem Werther começa a escrever suas cartas ao amigo Wilhelm, relatando sua chegada a um vilarejo alemão. Gostara do ambiente e do ar que se respirava; sentia-se cómodo e atraído pelas impressões sublimes daquela natureza campestre, cuja beleza era comparável somente à transparência de conduta observada naquela gente humilde. Talentoso pintor e escritor de origem aristocrática, Werther sentiu "que uma alegria contagiante apoderou-se de minha alma, semelhante às doces manhãs de primavera, que desfruto com todo o coração".
Sua amabilidade levou-o a conhecer Lotte, filha de um magistrado provincial, por quem se apaixonaria perdidamente. Werther ama Lotte como quem precisa respirar para viver. Deseja estar permanentemente ao lado dela como quem se entrega ao que existe de mais importante no universo: o amor. Mas é um amor impossível, Lotte irá casar-se com outro, e as circunstâncias morais da sociedade são obstáculo aos planos de Werther.
O tema do livro é a paixão, mas não a paixão disciplinada, comportada, condizente com os padrões e regras vigentes àquela época. É uma paixão sofrida até a aniquilação das forças vitais, na qual as barreiras da moral vêm totalmente abaixo, levada pela impulsividade livre. A obsessão por essa paixão e a impossibilidade de alcança-la farão com que Werther se torne um homem indisposto com a vida, alheio à realidade.
Toda a história é narrada pelo próprio Werther, em forma de cartas que Goethe afirma ter encontrado, publicando-as para honrar a vida do jovem Werther. É um estilo, aliás, já utilizado anteriormente por Jean-Jacques Rousseau em sua obra A Nova Heloísa, e cujo principal atractivo era a possibilidade de fazer o leitor questionar-se sobre a real existência dos personagens.
A obra é uma verdadeira expressão de sua época, pela força poética de sua linguagem e por captar a necessidade de transcendência que agitava então os espíritos juvenis, razão pela qual ela passou a servir de referência comportamental para quase toda a juventude europeia. A roupa de Werther casaca azul, colete e calções amarelos tornou-se praticamente moda entre os jovens. O próprio Napoleão confessou a Goethe em 1808 que havia lido o livro sete vezes. Ele foi, sem dúvida, o maior acontecimento literário do século XVIII, vindo a se tornar o primeiro bestseller da literatura europeia e o maior sucesso do autor.
O sucesso do livro trouxe consigo uma série de problemas, pois, tomando-o como referência, muitos jovens leitores lançaram-se em suas paixões, tomados por um sentimento de liberdade. Assim, é preciso um exame mais cuidadoso a fim de compreender as motivações do autor ao escrever tal obra, procurando tirar em nosso proveito aquilo que nos convenha como aprendizado.
Os Sofrimentos do Jovem Werther é uma espécie de confissão íntima realmente única, que faz o leitor penetrar no universo da sensibilidade romântica. É o início de um movimento que se dispersará por toda a Europa, chamando a atenção do homem para a sua natureza sentimental, em uma época em que a racionalidade, que permeava os meios intelectuais, não conseguia atingir o coração dos homens. O romantismo propunha que o saber não apresenta perigo desde que não se eleve simplesmente acima da vida e se afaste dela, mas queira servir à própria ordem da vida. Daí a necessidade do homem, antes de perguntar pelas leis do mundo, pelos objectos exteriores, e investiga-los, precisar responder a perguntas como: "o que somos?" e encontrar a lei primeiramente em si mesmo, através da reflexão e do autoconhecimento.
Naquela sociedade dominada pelas aparências, onde as atitudes exteriores assumiam um papel fundamental nas relações sociais, Werther chamara a atenção para o fato de todos colocarem a nossa essência em títulos de nobreza, em trajes bem quistos, no distanciamento entre os homens e a natureza. É neste sentido que, para Werther, o sentimento, a afectividade, a intuição e o irracionalismo contrapõem-se à ordem estabelecida, seja no plano social, seja no plano literário.
A paixão exagerada de Werther, levando-o a ruína de si mesmo, chama-nos a uma reflexão sobre nós mesmos, sobre nossas atitudes perante as pessoas a quem amamos e a importância que o amor possui em nossa existência. O amor absoluto é desejo de toda a humanidade, mas como alcança-lo? Como conciliar o desejo de liberdade e a fusão com o amor divino? Ao final, impõe-se a necessidade de descobrirmos qual a nossa verdadeira natureza, para que fim fomos criados, e o desejo de continuar sendo e de considerar o amor a única forma de plenitude possível.
E uma reflexão de um leitor (anónimo) ?
Ah, but which act requires or proves the greater bravery: to terminate the heart's torment by the simple act of Suicide, or to accept Life's harshness by continuing a lonely, meaningless existence? Which Hell is it better or nobler to endure: that of rejecting God's gift or that of eternal separation from the Beloved?
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